sexta-feira, 25 de abril de 2008

O país que merecem

Concordo com a análise das eleições directas do PSD que José Miguel Júdice faz hoje no Público, em crónica intitulada "A tábua de salvação". Eu se fosse militante do PSD votava no Pedro Passos Coelho para presidente do partido. Entre ele e Sócrates, em 2009, votava em Coelho sem hesitar. Já entre Sócrates e Manuela Ferreira Leite, tinha de arranjar outra pessoa em quem votar. Como escreve Júdice, são demasiado parecidos. Não há grande vantagem na troca, embora valha sempre a pena mandar Sócrates embora.

O que me surpreende e entristece é a falta de apoio a Passos Coelho por parte dos blogadores (palavra da minha autoria que prefiro a todas as alternativas que já vi) liberais. Então agora aparece um candidato que defende as mesmas ideias que os liberais (e que eu também) têm defendido desde o início, faz aquilo que todos queremos — está mais empenhado em debater ideias do que pessoas —, é duma geração mais próxima da nossa (Ferreira Leite tem 68 anos; Passos Coelho, 44), e eles vêem na senhora a salvação do partido e da pátria? Não consigo perceber. São capazes de se entusiasmar com uma tal de Ron Paul revolution que não nos afecta em nada e não demonstram um mínimo de entusiasmo pelo político com vontade de ser primeiro-ministro mais liberal da nossa praça e com muito mais hipóteses de ser bem-sucedido do que o simpático médico americano. Tanto tempo despendido a execrar os nossos políticos e mentalidade socialistas, a lamentar a ausência de propostas políticas liberais e agora que há a possibilidade de pelo menos essas ideias ganharem projecção nacional, desprezam-na. A consideração que tinha por eles caiu a pique. É caso para dizer, e digo-o com tristeza, que têm o país que merecem.

2 comentário(s):

JoaoMiranda disse...

Passos Coelho tem um problema de credibilidade que terá que ultrapassar. Se quiser ser levado a sério tem dar garantias de que as suas ideias serão levadas à prática. E por enquanto não tem cndições para as implementar. Esse é o problema.

Pedro Machado disse...

Concordo que esse é um problema sério. Mas qual é a alternativa? Um político (MFL) que já deu provas de ter uma visão da economia e da política próxima da de Sócrates? Para que serve isso? Não me parece que o discurso de Coelho seja fingido e decididamente não é oportunista, pelo que na pior das hipóteses não implementará uma política tão liberal como a que defende, mas será sempre mais liberal que a de Sócrates. Mas MFL nem na melhor das hipóteses aplicaria uma política tão liberal como a defendida por PPC. Por isso, este é uma aposta melhor do que as outras, do ponto de vista dum liberal.

Mas para mim o mais importante é mesmo a possibilidade de termos uma oposição liberal em vez duma socialista a Sócrates. Não só porque uma oposição socialista a Sócrates cai invariavelmente no ridículo, na irrelevância e na incoerência, mas principalmente porque é uma oportunidade de ouro de se discutir a sério as ideias liberais em Portugal. Difundir essas ideias no parlamento, através dum grande partido terá muito mais impacto do que a meia dúzia que o faz na blogosfera.

Além disso, será igualmente difícil para Leite como para Coelho ganhar a Sócrates se tudo correr bem a este. Mas se lhe correr mal, é bem possível que ganhe as eleições quem estiver à frente do PSD em 2009. Uma aposta agora em Coelho valeria então ouro.

E sinceramente, penso que Passos Coelho pode até ter mais hipóteses de ganhar em 2009 que a Ferreira Leite. O povo está cansado dela e ela também já mostrou o que vale. E esse facto talvez pese mais do que a falta de provas de Coelho. Às vezes é melhor experimentar aquilo com que simpatizamos do que deixarmo-nos levar por inércia e medo por aquilo que nos desagrada mas que conhecemos.